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segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Viagem por terras de África

Está a partir de hoje disponível o primeiro volume de uma obra relativa à exploração do continente africano no século XIX pelo explorador e administrador colonial português: Serpa Pinto.

Neste volume encontram-se descrições da flora, fauna e tribos africanas, que serviram de base de estudos mais aprofundados, bem como peripécias e privações próprias da aventura, como esta que vos apresento:

"A este respeito vou narrar um facto que se deu na libata, comigo. Um dia, um cirurgião Biheno appareceu ali trazendo um remedio que era preservativo contra as balas, áquelle que o tomasse.

Isto é crença geral entre Bihenos, e muitos ha que gastam tudo o que t[~e]m para adquirirem aquelle abençoado remedio, que os torna mais invulneraveis do que Achilles, porque nem mesmo lhes deixa a possibilidade de receberem a morte por um calcanhar.

[...]

O cirurgião Biheno trazia uma panellinha de meio litro cheia do precioso preservativo, e apregoava que aquelle que o tomasse seria depois tão invulneravel como o era a panella que continha o lìquido, panella a que tôdo o mundo, no seu dizer, tinha atirado sem que as balas lhe fizessem o menor damno. Quiz elle dar ao pùblico uma prova irrefutavel, e desafiou-me de atirar á panella; tendo previamente o cuidado de me marcar a distancia (uns 80 passos) a que elle julgava ser impossivel acertar em tão pequeno alvo.

Tomei a carabina, atirei, e fiz a panella em cacos, derramando-se o precioso licor.

Nunca vi applaudir mais phrenèticamente alguem, do que eu fui applaudido então pêlo gentio entusiasmado.

O pobre cirurgião foi completamente corrido no meio de geral assuada.

Este pobre homem foi ali buscar o seu descrèdito."



Excerto do primeiro volume da obra Como atravessei Àfrica de Serpa Pinto, agora disponível para leitura no sítio do Projecto Gutenberg. Esta obra foi revista pelos voluntários do Projecto Distributed Proofreaders.

Devido ao carácter especial desta obra, seja pela importância histórica ou pela quantidade de figuras e mapas existentes na obra, foi criado um ficheiro HTML para além do habitual ficheiro em ISO-8859-1.

Boas leituras.

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