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sexta-feira, junho 20, 2008

Versos de Bulhão Pato

A mais recente obra da colecção em língua portuguesa no sítio do Projecto Gutenberg (PG) é livro de poemas. Fica aqui um excerto da critica à referida obra:

«Que nos está dizendo esta formosa cadeia de canções amorosas, umas amor, outras caridade, outras lagrimas, todas, porém, coração?
Não sei eu ver e sentir bem estes versos, se aqui não ha a poesia mais espontanea, a mais santa, a mais á flor da alma!

Começou na alvorada da vida aquelle sensitivo engenho a tecer a sua corôa de flores; depois entrançou-lhe murtas, e cyprestes, os emblemas todos das vicissitudes de uma existência de trinta e tres annos. A grinalda ahi está: é assim que os grandes poetas, desprendidos das mesquinhas affeições, se corôam, uns com maior feixe de flores, outros com uma só de cada especie; mas, lá na ideal craveira do sentimento, os espiritos de Bulhão Pato pairaram na altura onde subiram os mais remontados cantores. A differença está em que Lamartine escrevia uma ode de duzentos versos bafejados pela inspiração de Bulhão Pato: isto procede de que o poeta de Elvira se dava oito horas de recesso no seu gabinete; e Bulhão Pato escrevia a lapis, na sua carteira, em oito minutos, a sua commoção, em quanto a vehemencia o arrobava. Não hei de eu por isso acoimal-o de esteril, de indolente, nem se quer de descultivador do seu muito engenho. Bulhão Pato é assim. Pedissem lá a Anacreonte que estirasse as suas pequenas lyricas, que elle rejeitaria a immortalidade a preço da gloria de difuso metrificador.

Camilo Castelo Branco, in Revista Contemporanea de Portugal e Brazil, Abril de 1962, pág. 464»


Excerto da obra Versos de Bulhão Pato de Raymundo Antonio de Bulhão Pato, disponível para leitura no sítio do Projecto Gutenberg. Esta obra foi revista por 28 voluntários do Projecto Distributed Proofreaders.

Boas leituras.

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